quinta-feira, 12 de abril de 2012

JUIZ DREDD (1995) | CRÍTICA

Autor: Rubens Junior | Facebook | Twitter


NOTA
4,9

Diretor: Danny Cannon
Roteiristas: John Wagner, Carlos Ezquerra, Michael De Luca, William Wisher
Elenco: Sylvester Stallone, Diane Lane, Armand Assante, Rob Schneider, Jurgen Prochnow, Max Von Sydow, Joanna Miles, Joan Chen, Balthazar Getty, Maurice Roëves, Ian Dury, Christopher Adamson, Ewen Bremner, Peter Marinker, Angus MacInnes.

Faltou pouco, bem pouco, para este filme alcançar a nota 5 e ser considerado apenas um filme mediano, e não ruim. Pois há muita coisa boa no filme, muitos acertos, mas as poucas falhas envolveram os principais critérios do filme: o roteiro e o final.

Assisti este filme no cinema, logo quando lançado, e alguns dias atrás assisti novamente após ter conseguido comprar o dvd. É sempre interessante assistir o filme quando mais jovem e depois, quando mais maduro, para discernir quais as partes que eram boas simplesmente porque a ação entretia e quais partes eram boas porque realmente eram bem feitas. Neste filme, tive exatamente as mesmas percepções nas duas vezes que assisti, as mesmas satisfações, e as mesmas decepções.





Para quem não conhece, Juiz Dredd, embora pouco conhecido do público geral, é um personagem muito interessante das hqs. Contextualizado num ambiente pós guerra/catástrofe natural do nosso próprio planeta, com a tecnologia do futuro extremamente evoluída, ele é um dos integrantes da força jurídica de rua, que tem o amplo poder de prender, julgar e condenar os criminosos. Um poder estabelecido na intenção de diminuir o tempo burocrático perdido durante as condenações. Dentre os Juízes, Dredd é o mais temido entre os foras da lei, por ser o mais habilidoso e o menos clemente.

O filme partiu desta premissa, e foi surfando entre pontos positivos e negativos que explico a seguir:

POSITIVO


PROTAGONISTA - Sylvester Stallone foi o maior acerto de todos. A escolha dele como protagonista não poderia ser melhor. No auge de sua fama por interpretar personagens exatamente no estilo "herói machão" como Dredd, Sly ainda por cima, tem a característica "boca torta" assim como o personagem.  Lembro que, quando o filme foi lançado, este detalhe era o mais comentado na nossa rodinha dos fãs de hqs. Após aquela loucura até saber quem interpretaria o herói, ficamos extremamente satisfeitos com a escolha do Sly, pois já está vamos acostumados a vê-lo quebrando tudo e todos, dando tiros, sendo o machão... já era convincente, e era tudo que esperávamos do Dredd. Veja abaixo uma reportagem da época sobre Sly, nos bastidores das filmagens:



ATUAÇÕES - Além do Sly, o resto do elenco não era brincadeira. Todos os principais e até alguns coadjuvantes eram atores de extrema categoria, e realizaram um trabalho a altura de sua fama. Diane Lane está linda e sua atuação excelente como sempre; Rob Schneider é um comediante deveras engraçado e foi até mais que um mero alívio cômico, fazendo parte da trama toda; Armand Assante apresentou um vilão malévolo mas bem realista; Jurgen Prochnow, Max Von Sydow e o resto do elenco também não ficaram atrás. Nota dez para todas as atuações. Interessante destacar que, Sly é o único dos atores que apresentou um personagem mais "caricato", menos realista e muito mais estereotipado. Embora isso tenha destoado um pouco durante as contracenações, isso já era meio esperado (como nos outros filmes do ator), e não se tornou um fator negativo.



VISUAL - Para época, foi perfeito! Lembro que isso foi um dos pontos que todos elogiaram após sair do cinema, os cenários, a cidade, as naves, tudo parecia muito real. Destaque para o capricho do uniforme e equipamentos dos juizes. As motos, as armas, tudo impecável. Extremamente similar ao ilustrado nas hqs, com um estilo mais chic, destacando o dourado, denunciando o valor que o Juiz exercia na sociedade. A cidade e as ambientações em geral também não deixaram a desejar. As localidades reais totalmente equipadas, desde os bares, bazares, residências, escombros, becos.. um baita trabalho detalhado em tudo. E, nas partes aéreas, nas alturas dos prédios, o CGI também deu conta do recado. Um show para época. A única coisa que ficou um pouco mal feita foi a parte da perseguição de motos voadoras. Mas não chegou a estragar o filme. Passou. E todo este visual foi o que fez o filme atingir o mega orçamento de US$ 90 milhões!


O ROBÔ E O MAU - Tanto o visual impecável quanto as "atuações" destes dois personagens ficaram muito boas. Ambos pareciam realmente ameaçadores e tiveram um papel interessante no filme. Uma pena que a participação foi curta, pois ficaram tão bem encaixados, que poderiam ter durado bem mais no filme.





INTRODUÇÃO - O filme começou muito bem! Apresentou extremamente bem o ambiente, a situação do mundo no futuro, como funciona a nova legislação e, principalmente, o Juiz Dredd. Ele chega soberano em sua moto numa situação de caos, se apresenta imponente, os bandidos já se apavoram devido a fama do herói, e Dredd acaba com os caras mostrando tanto sua habilidade, quanto as boas funções das suas armas do futuro. Depois ele chega na central jurídica, fica claro que ele foi sempre o melhor aluno do "distrito", começa a dar aulas para novos "cadetes", e faz um belo discurso sobre a vida solitária do Juiz. Perfect. Até ali, mesmo quem nunca havia ouvido falar do personagem, já conseguiu se introduzir na história e se ambientar totalmente com aquela realidade do personagem. Show.





NEGATIVO

ROTEIRO - infelizmente, após a bela introdução do filme, o roteiro começou a se desenrolar e, o que parecia bom, foi ficando ruim e cada vez pior.

  • O vilão Rico é apresentado até de forma interessante também. Porém, até hoje eu não sei se "Rico" é um personagem das hqs do Dredd e, como ator, embora tenha feito um excelente trabalho, não tem a mesma fama do Sly. Então pareceu um vilão meio "fácil de vencer", de segunda categoria. Foi tipo assim: "Ué.. quem é esse cara? Ele não dá nem pro cheiro contra o Stallone."
  • Logo em seguida, ainda no começo do filme, Dredd não é mais juiz? Como assim? O filme acabou de apresentar o personagem como o Juiz, o maioral, com aquele uniforme bacana, todo mundo gostou, aí tiram o uniforme do cara, o cargo, e ele passa o filme inteiro sem o uniforme, todo zuado, agindo como fora da lei??? O que era mais bacana no personagem foi deixado de lado subitamente! O julgamento dele até foi bom, bem feito, mas nem era para ter ocorrido. O roteiro deveria apresentar uma história em que o herói, como juiz, vecesse os volões. Aí, quem sabe, num segundo filme, numa provável continuidade, ele perde o cargo de juiz e tenta recuperar, etc.. mas não no primeiro filme, logo no começo!
  • Então, de repende, o Dredd e o zé ninguém do Rico são irmãos? Aí eles são clones???!!! Calma ae! Como se não bastasse tirarem o cargo de juiz do personagem chamado Juiz Dredd, eles ainda tiram a humanidade dele, que é o que o público mais curte nos heróis?! Essa foi demais. O Batman só é o personagem mais amado de todo o planeta (passou o Super-Homem há uns anos atrás) pois ele é humano. Há uma certa empatia por isso. Dredd é como um Batman, cheio de inteligência, equipamentos, só que funcionário da lei (não um justiceiro alado). Transformar ele num clone já arrancou toda empatia que o personagem conquistou com o público no começo do filme. E eles ainda reforçam isso, deixando claro que, por ser um clone, ele não tem muitos sentimentos. Ridículo.
  • Aí, como se não bastasse estragar o filme com esta história de clone, o precipício foi ainda mais fundo: mataram todos os juizes para substitui-los por diversos clones. Aaafffff... não deu. Pensa comigo: o filme já é no futuro, já tem naves, o sistema jurídico já é diferente... já não bastava? Precisava viajar ainda mais nas idéias? Não! Já estava bom, bastava inventar um roteiro simples, pois todo o contexto já era extravagante demais. Clones não!

FINAL - Aí está, o mais esperado, o final! Embora ninguém tenha curtido a idéia do Dredd não ser mais juiz, nem de ser um clone, nem de ter que enfrentar seu irmão (meia boca) clone, nem mais um monte de clones perambulando pela cidade.. o final do filme remetia a isso, e é no mínimo isso que havia de ocorrer! Mas não.. os próprios vilões foram se matando!!! O próprio Rico mata a grande e verdadeira ameaça do filme, o diretor de justiça Griffin, que foi quem libertou Rico, matou o diretor bom ("pai" de Dredd), reorganizou toda a instituição, bolou todo plano maquiavélico, e era o único que conseguia condenar Dredd no "distrito" (pois Rico era um prisioneiro fugitivo).. Griffim morreu assim, do nada, pelas mãos do Rico. O robô gigante, aquele guarda-costas do Rico, que matou vários juízes sozinho, foi exterminado pelo "alívio cômico". Aí, Dredd chegou e matou o Rico numa briguinha de comadre. E toda aquela guerra de clones dominando a cidade que o final anunciava, nunca aconteceu! Nem chegou perto de ocorrer. Pelo contrário, eles nem chagaram a ficar prontos.. eles apareceram meio como zumbis, mas sumiram, não deram um soco, um tiro, nada.. só apareceram, fizeram umas caretas, e morreram na explosão final.. Ou seja. Criaram toda uma mirabolante história que estragou o filme e, no final, nem tiraram proveito dela. Stupid.


MARKETING - Bom... de qualquer forma, o fracasso de público não ocorreu só porque o filme se estragou sozinho. Mas também pois, embora tenha sido protagonizado por um dos grandes heróis dos filmes de ação do momento, ninguém conhecia direito Juiz Dredd. Nem eu mesmo. Ninguém sabia quem era, se tinha poderes, pelo que lutava.. nada. Ou seja, foram no cinema só os marmanjos que curtiam os filmes de ação do Sly. Se houvesse uma campanha de marketing mais forte, com mais cartazes, com mais comentários, entrevistas, apresentações das hqs.. com certeza o filme teria, pelo menos, diminuído o déficit orçamentário, que foi grande: dos US$ 90 milhões gastos, apenas US$ 34,6 milhões foram arrecadados mundialmente.


E é isso. Mais um filme que tinha tudo para ser excelente, e acabou decepcionando. Lembrando que foi feito numa época em que ninguém estava investindo em quadrinhos no cinema, muito menos com muito orçamento, ao contrário de hoje, que rola uma média de 5 adaptações por ano no cinema com alta renda. Quem sabe, se desse certo, este "boom" dos quadrinhos no cinema que ocorreu a partir de X-Men e Homem-Aranha, não teria ocorrido com Juiz Dredd. Quem sabe.





Outro detalhe interessante que lembrei é o seguinte: a teoria que comentei sobre o vilão Armand Assante (Rico) não ser famoso, e por isso não apresentou uma aparente ameaça contra o Stallone, se comprova no filme O DEMOLIDOR (1993). Se prestar atenção, são filmes quase idênticos: contextualizado no futuro, com tecnologia evoluida, Stallone no comando fazendo papel estereotipado de machão, Sandra Bullock no lugar de Diane Lane, o mesmo Rob Schneider como alívio cômico (num papel bem menor), porém, com um vilão de peso, Wesley Snipes - um ator já conceituado nos filmes de ação, já conhecido por sua habilidade marcial, e admirado pelo público por isso (além do Snipes ser um baita ator). Isso fez toda a diferença e, embora o roteiro de O Demolidor tenha também seus exageros (gente congelada, o líder matando todo mundo para tentar dominar tudo, etc), o vilão a altura garantiu o sucesso do filme e, na minha opinião, é um dos melhores filmes do Sly até hoje.







I AM THE LAW

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